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Fretes Internacionais. Aumentos abusivos. Qual a justificativa?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O ano de 2020 bem provavelmente deve ter sido um desses anos que marcam o começo de um século. No Livro de Eric Hobsbawm, A era dos extremos – ele retrata que o Século XX começou de fato em 1914 com o advento da I Guerra Mundial e termina em 1989 a 1991 com a queda do muro de Berlim e queda da antiga União Soviética. Pois bem, se existe um marco para o Século XXI, esse com certeza vai ser o Coronavírus (COVID-19) e suas consequências (pandemia, quarentena, crise sanitária com crise econômica junto, etc…).

 

Deixando a questão espiritual, humana e sanitária de lado um pouco, com um olhar para as questões econômicas, diante de todo o cenário mundial que estamos vivendo, de todos os setores e segmentos que esta pandemia tecnológica e acelerada está impactando, uma situação tem nos chamado muita atenção é a questão do aumento abusivo, desproporcional e único na história, dos fretes internacionais das importações brasileiras, oriundas dos Portos Chineses. Tive o cuidado de consultar parceiros e amigos de longa data, empresas e pessoas atuantes no COMEX Brasileiro, e ninguém, nem eu, nunca vimos e nem passamos por esta situação de aumentos bruscos e desproporcionais, como estamos passando atualmente ao contratarmos fretes internacionais para trazermos nossos containers da Asia para o Brasil.

 

Os Fretes dos Portos Chineses para o Brasil estavam na casa dos USD 1.500,00/USD 1.600,00 no começo e em meados do mês de setembro, para containers de 20’ e 40’ cotados dos Portos Chineses, para a grande parte dos Portos Brasileiros. No final de setembro/2021, começamos a ver os fretes subirem semanalmente, de maneira que cotações que outrora tínhamos validade de 15, 30 dias, passaram a ter validade de 7/10 dias. Os Armadores além de praticarem aumentos semanais no valor do frete, nos pressionam com cobranças de taxa de prioridade (cada Armador tem uma sigla, um nome mais comumente chamada de Sea Priority), que segundo eles é uma taxa que garante o embarque de nosso container naquele navio, e esta taxa também começa a ser cobrada com um valor “X”, e depois passa a sofrer aumentos assim como o frete, de maneira que atualmente (estamos na segunda semana de janeiro de 2021), os fretes estão beirando a casa dos USD 9.500,00/USD 10.000,00 o container.

 

As justificativas são todas! Pandemia, intenção de diminuição da demanda global, remanejamento de rotas e navios, retomada da demanda global por produtos chineses, retomada pela demanda de containers pela Europa e Estados Unidos, backlog de cargas e containers nos portos chineses, falta de espaço, falta de navios, vacina contra a COVID e agora, como usualmente acontece, feriado do ano novo chinês. Os armadores com certeza estão (desculpem meu linguajar popular) “deitado e rolando”, pois estão ganhando bastante dinheiro com esta situação. E nós, usuários do serviço infelizmente, temos de ficar a mercê de cenários sempre duvidosos, cinzentos, trazendo para nosso dia a dia de desafios mais esta pauta de como auxiliar nossos cientes a primeiro, não perder os embarques / não permitir rolagem de carga. Segundo, pagar o melhor frete no momento do embarque porque, é comum agentes de cargas ofertarem no mercado fretes “melhores” para os importadores para conseguirem fechamentos e aprovações, porém no momento de embarcar, como estes fretes irão estar menores do que os frete praticados pelos próprios armadores, a carga do nosso cliente “fica no chão”… não embarca. Ou ainda, agente de carga que ofertam fretes “melhores” e na hora de embarcar o container, usando a famosa frase “com a carga na mão”, informam ao cliente que o frete não será mais o mesmo e “empurram” literalmente o valor do frete mais alto para o importador, que no fim das contas não quer mais correr o risco de ter sua carga não-embarcada.

 

Este é um artigo escrito por mim, com a alma e DNA de Despachante Aduaneiro. Vivo na pele o sufoco que nossos clientes passam, auxiliamos com todo o network e experiência que temos mas no final, é preciso estarmos cientes e alinhados de que, vamos pagar uma conta alta no decorrer de 2021. Este aumento abusivo dos fretes está encarecendo demais o valor do produto, considerando ainda que este mesmo frete faz parte da base de calculo dos impostos de nacionalização da carga, ou seja, custo em cima de custo!

 

Conforme notícia publicada no Valor Econômico recentemente, na íntegra: “No mercado, ainda há muita incerteza sobre como os preços se comportarão no médio prazo”. Acreditamos que o frete irá se normalizar ao longo de 2021, que siga alto por mais dois ou três meses e feche o ano na casa dos USD 4 mil por TEU.

 

Se a Pandemia e a crise instaurada pela COVID-19 será o marco do Século XXI, oremos aos céus que o evento que finalize nosso século seja mais promissor e sem o caráter social-económico como foi a queda do muro de Berlim e o final de URSS do Século anterior. Que o mundo seja brindado neste fim de século com algum evento que melhore a humanidade, o meio ambiente, nossa fauna, flora e ar que respiramos.

Autor: André Magalhães

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