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Tecnologia e Comércio Exterior, do modem discado ao App – Uma viagem no tempo!

No mundo tecnológico atual, com o advento prático recente da tão falada Inteligência Artificial (agora mais ao alcance de todos), estamos vivenciando um momento de ruptura, de transformação em diversos segmentos da vida, profissional e pessoal.

Um pouco de cultura pop… essa antiga e famosa Inteligência Artificial, é aquela que assistíamos de longe, comumente em blockbusters hollywoodianos como “2001, uma odisseia no espaço” de 1968, “Star Wars – Trilogia inicial: Uma nova esperança (1977), o Império contra-ataca (1980) e o Retorno de Jedi (1983), O Exterminador do futuro I (1984) e II (1991), e uma série de outros filmes, os quais me refiro aqui ao período em que não tínhamos internet, não tínhamos TV a cabo, transmissão via satélite, dependíamos de algumas poucas salas de cinemas nas maior parte das cidades (nada parecidas com as salas de cinema atuais), das vídeo-locadoras de fitas VHS, para as famílias que podiam compras aparelhos de vídeo-cassete (quem lembra dos melhores vídeo cassetes? Eram os que tinham “04 cabeças” … calma, não são cabeças alegóricas… eram 04 cabeçotes que compunham o leitor, um disco rígido que ficava literalmente girando dentro do vídeo-cassete, que faziam com melhor qualidade a leitura da fita VHS, logo tínhamos uma imagem “melhor” ao adquirir este tipo de equipamento), e para finalizar este breve livro de memórias, dependíamos também de programas como o Supercine (aos sábados a noite) e Tela Quente (as segundas-feiras a noite), ambos da TV Globo. Esses foram os anos 80 e os anos 90, período o qual muitos de nós ingressamos na vida acadêmica, na vida profissional, enfim, na famosa população economicamente ativa como preceituam os economistas.

No Comércio Exterior Brasileiro, temos um marco tecnológico, uma primeira quebra de paradigma, um ponto de conexão entre o que estamos vivendo hoje, em 2023, com o ano de 1993. Há exatos 30 anos, entrava em operação o famosos SISCOMEX – Sistema Integrado de Comércio Exterior. Neste ano, as históricas e antigas Guias de Exportação deram lugar ao R.E. (Registro de Exportação) e a S.D. (Solicitação de Despacho). O Siscomex rodava em ambiente MS-DOS (não tinha vida fácil, era ambiente de programação, nada de cores e visuais modernos), e a última tecnologia da época era um aparelho chamado MODEM. Esse modem permitia que o computador (telas monocromáticas, sem cores… tudo em preto e verde, a tela tinha cor preta e as letras digitadas tinham cor verde) discasse, fizesse uma ligação como se fosse um telefone, e essa ligação (analógica) permitia que o computador se conectasse com o SERPRO (Empresa do Governo, responsável pelo processamento de dados da Receita Federal) e acessasse o Siscomex Exportação. O SERPRO, diga-se “en passant” foi o órgão criador do Siscomex.

Além disso, houve o advento dos canais de parametrização que na época, talvez alguns lembrem, outros não, eram os canais verde, laranja e vermelho. Exatamente… canal laranja. O famoso canal amarelo veio a surgir em 1997, juntamente com um outro canal, bem famigerado do ponto de vista do importador “desavisado” que é o canal cinza. 1997, o ano do Siscomex Importação. Aposentamos a Guia de Importação, a Declaração de Importação (a D.I.) datilografada na máquina (de datilografar, com o perdão da redundância), foi criada a L.I. (Licença de Importação) e a D.I. agora digitada, registrada no Siscomex Importação, que rodava já em ambiente Windows, mais amigável e muito mais colorido que o ambiente do MS-DOS. Para recordarmos, a Microsoft revolucionou o mercado ao conseguir rodar o Windows 95 sobre o DOS, trazendo para o usuário uma outra dinâmica de salvamento de arquivos, de pastas, acabaram com as planilhas em Lotus 123 com a chegada do Excel no pacote Microsoft, conhecemos o Word e todos os outros programas que causaram rupturas tecnológicas na época).

Entramos na era da Internet Banda Larga, aposentando a Internet discada. Entraram em cena os distribuidores de rede (Switch) e a Internet sem Fio (Wireless). Conhecemos os roteadores, chips de memória cada vez mais potentes, HD’s cada vez com maiores capacidades, processadores cada vez mais rápidos, conhecemos a Google (1998), o mp3, o mp4, Computadores de mesa (Desktops) deram espaço aos notebooks, que deram espaço aos tablets, que deram espaço para os smartphones. 2007, ano que Apple revoluciona (mais uma vez) o mercado, com o lançamento do I-Phone, elevando o patamar tecnológico dos smartphones conhecidos na época, forçando a concorrência a também buscar mais tecnologia e aprimorar seus smartphones, explodindo o uso deste aparelho ao qual atualmente, não temos como deixar de tê-lo. As pessoas hoje em dia, aturam ficar sem o carro por 5 dias, porque está na revisão, na oficina, etc… mas não conseguem ficar 5 dias sem um telefone celular. 2008 também e um ano crucial tecnologicamente falando, pois com a crise do sub-prime afetando as economias norte-americana e europeia, a geração do Vale do Silício na época mostrou ao mundo como se derrubam gigantes seculares como bancos (surgimento das FINTECHS), industrias automobilísticas seculares (surgimento da TESLA), fim dos aparelhos GPS (surgimento do WAZE, fora do Vale do Silício é verdade, mas surgido nesta época em Israel), quebra de paradigma na mobilidade urbana com a UBER, aposentadoria definitiva das vídeo-locadoras de DVD (não mais a esta altura a fita VHS, mas o super-atual DVD) com a revolução do streaming (surgimento da NETFLIX), dentre outros.

Mas o que tudo isso tem a ver com Comércio Exterior? Absolutamente tudo!

Toda essa revolução tecnológica dos últimos 30 anos, ditou as regras do Comércio Exterior Brasileiro. A Receita Federal, além do Siscomex Exportação e Importação, criou uma série de outros sistemas como o HARPIA, o Siscomex CARGA, o Siscomex-RADAR, a DTA eletrônica, e tantos outros, aproveitando a onde tecnológica iniciada neste setor no começo dos anos 90. Estamos em 2023 diretamente conectados à 1993, pois em comparação temporal o mesmo impacto que o Comércio Exterior do Brasil sofreu com o advento do Siscomex Exportação na época, irá sofrer agora com o ChatGPT, ApleGPT, o BARD e o BingCHAT. Todos os sistemas da Receita Federal migraram para o PORTAL ÚNICO e neste momento, com a automatização da exportação através da já existente DU-e (Declaração Única de Exportação), e da importação com a entrada em breve da DU-Imp (Declaração Única de Importação), sistemas modulados dentro do Portal Único como o CCT e sub-sistemas como o Catálogo de Produtos, prometem uma verdadeira revolução na forma como trabalhamos.

Atrelados aos sistemas e aos programas de Inteligência Artificial disponíveis, observa-se a possibilidade de coleta e transmissão de dados e documentos via API (application programming interface), permitindo-se assim a comunicação de aplicativos de smarphone, com os sistemas governamentais, mudando o formato de trabalho, elevando desta maneira o nível de serviço, de atendimento e compliance das empresas que prestam serviços de comércio exterior para um outro patamar. Um aplicativo de smartphone hoje pode entregar ao importador e exportador brasileiro uma gestão diferenciada, mais completa e em tempo real de seus processos, literalmente na palma de sua mão, o que vai além de uma relação entre empresas, entre importadores/exportadores com agentes de cargas e despachantes. Utilizar aplicativos para gestão de comércio exterior, além das empresas tem a ver com pessoas! São pessoas utilizando seus smartphones (pessoais, ou da empresa) para configurar na tela dos seus celulares, seus melhores modos de gerir, de controlar, de administrar suas compras e vendas internacionais. É um outro conceito, de verdade, uma outra realidade. Essa tríade Portal Único x Aplicativo Smartphone x Inteligência Artificial fará de 2023 um marco temporal, conectado diretamente com 1993 e com o que compreendemos da palavra “futuro”.

“Nada é permanente, exceto a mudança” (Heráclito)

 

Salvador/BA, 30 de agosto de 2023.

 

Elaboração: André Magalhães

Administrador e Sócio-Diretor da Logtrade Comércio Exterior

 

Revisão: Liege Soldado

Jornalista e Sócia-Diretora da Soldano Comunicação

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